A depressão Perinatal é caracterizada por início dos sintomas na gestação e/ou em até 12 meses do pós-parto, com maior risco no 2º e 3º trimestres e nos primeiros meses do pós-parto. Apesar de comum, 15 a 20% das gestações e pós-partos (prevalência próxima à do diabetes gestacional), ainda é subdiagnosticada e, por consequência, pouco tratada. Na gestação, além dos sintomas comuns da depressão (tristeza profunda, incapacidade em experimentar prazer, alteração do sono, apetite, libido, atenção e concentração, pensamentos de morte e, em casos mais graves, sintomas psicóticos, ideação e tentativas de suicídio), podem surgir sentimento de culpa e ansiedade exagerados, medo de não dar conta de cuidar do filho ou sensação de que não será uma mãe suficientemente boa; dificuldade em seguir as orientações do pré-natal adequadamente. Dessa forma, não impacta somente a saúde e qualidade de vida da gestante, mas aumenta o risco de ter bebê prematuro e com baixo peso ao nascer.
Após o parto, por conta de componentes biológicos, sociais e psicológicos (oscilações hormonais; fase de adaptação à nova realidade; privação de sono; dificuldades no início da amamentação; dentre inúmeros outros), cerca de 70 a 80% das mulheres experimentam crises de choro, nervosismo e irritabilidade, alteração do apetite e do sono, sensação de que não conseguirá cuidar ou amamentar o recém- -nascido, pouca paciência com parceiro, amigos e familiares: é o chamado “Baby Blues” ou “Tristeza materna”, com início por volta do 3º dia, cessando espontaneamente em torno de 2 semanas.
Em até 20% das mulheres a tristeza se agrava muito e, associados a outros sintomas da depressão, podem apresentar grande dificuldade em experimentar prazer nas atividades de que gostavam e na maternidade e, sentindo-se culpadas por não estarem felizes, muitas tentam minimizar e esconder os sentimentos; o cuidar do bebê pode transformar-se em fonte de ansiedade e sofrimento, com sensação de estar sobrecarregada, sem condições de decidir e resolver os problemas do cotidiano, com prejuízo da qualidade de vida e saúde materna, do vínculo mãe-filho, da amamentação e de outros cuidados essenciais.
Quando os sintomas são importantes, associados à psicoterapia, atividade física e hábitos de vida saudáveis, devem ser usados medicamentos para o controle e remissão do quadro. Há medicações seguras para a mãe e o bebê, tanto na gestação quanto na amamentação, sendo indicada a avaliação por psiquiatra para definir qual seria a mais adequada individualmente. Além do sofrimento materno, a depressão perinatal impacta negativamente no desenvolvimento cognitivo, emocional e físico da criança de forma duradoura, devendo ser rastreada e tratada; no entanto, somente cerca de 15% das mulheres que necessitam obtém tratamento adequado. Se ainda há preconceito com relação aos transtornos psiquiátricos em outros contextos, no período perinatal o problema é ainda maior: um tabu!